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A Amazônia não é um pulmão, é o coração

Postado em 12/Setembro/2019

Amazônia! Nunca se falou tanto sobre o assunto como nos últimos dias. Entre fatos e fake news, todos os canais midiáticos estavam voltados para o assunto do momento: “A Amazônia arde!” Diante de uma enxurrada de informações que deixaram a população mais confusa que informada, dezenas de jornais alarmaram o planeta: “Estão destruindo o pulmão do mundo!” Algumas figuras públicas até falaram com precisão: “A Amazônia, pulmão do nosso planeta que produz 20% do nosso oxigênio, está em chamas.”[1] Alguns pesquisadores contestam essas informações, dentre eles, a bióloga Mutue Toyota Fujii, do Instituto de Botânica de São Paulo, que afirma que são as algas, não a Amazônia, que levariam o título de “pulmões do mundo”. Somente as algas produzem mais de 50% do oxigênio do planeta. “O excesso de gás liberado na água passa para a atmosfera e fica disponível para os outros seres vivos”, afirma a bióloga.[2]
A Floresta Amazônica libera na atmosfera cerca de 1,5 bilhão de toneladas de oxigênio. Só que esse valor é algo muito pequeno: 0,001% do oxigênio do planeta, explica o climatologista Carlos Nobre. “Isso não anula a importância ecológica das florestas. A Amazônia é a grande responsável pelo equilíbrio climático do mundo”, conclui Hugo Huth da Universidade Federal de Minas Gerais.[3] Vale ressaltar, também, que essa exuberante floresta retém dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa. Gostaria, então, de convidar você para conhecer um pouco mais sobre um dos mais ousados e colossais sistemas já elaborado: a Amazônia.
Localizada na porção sul do continente americano, a maior floresta tropical do mundo abriga não somente a maior bacia hidrográfica do planeta – a Bacia Amazônica –, mas o maior reservatório de água doce, de acordo com a Agência Nacional de Águas: o Aquífero Alter do Chão, que chega a ser duas vezes maior que o Aquífero Guarani, mundialmente conhecido.[4] Porém, o mais espantoso é que a colossal floresta tropical além de possuir gigantescos rios debaixo da terra, imensas drenagens em sua superfície, possui um verdadeiro “rio voador”.
Para entendermos o mecanismo desses rios voadores, precisamos partir da maior fonte de água do planeta: o oceano. Os ventos carregados de umidade vindos do oceano despejam chuvas torrenciais sobre o continente. Porém, à medida que essas correntes de ar adentram o continente, era esperado que o ar perdesse a umidade por conta das chuvas e ficasse mais seco. Algum mecanismo precisaria existir para fazer com que esse ar continuasse úmido. Daí, então, entra em ação um grande fator chave: as árvores. Com raízes bastante profundas, as árvores da floresta Amazônica são capazes de captar água dos imensos reservatórios contidos em rochas areníticas, a cerca de 60, 80 metros de profundidades. Suas folhas são estruturas fantásticas de evaporação. Uma árvore com copa de 20 metros de diâmetro pode despejar na atmosfera cerca de mil litros de água em um dia. Em toda a Amazônia, esse valor pode ultrapassar os 20 bilhões de toneladas de massa de ar úmida em um dia.[5] Para você ter ideia, o rio Amazonas despeja algo em torno de 17 bilhões de toneladas de água diariamente nos oceanos. Logo, esse “rio de vapor” que ascende é maior que o próprio rio Amazonas![6]
Os aerossóis que existem na atmosfera sobre a Floresta Amazônica são considerados os núcleos de condensação de nuvem. A floresta é capaz de fabricar sua própria chuva. E mais: essa chuva viaja dezenas de quilômetros de distância, sendo vital para outras regiões do planeta. Esses são os “rios voadores”. Ou, tecnicamente, jatos de baixos níveis.
Ao percorrer toda a América do Sul, esses rios de umidade são barrados pelas gigantescas montanhas da Cordilheira dos Andes, mudam sua rota e voltam a alimentar as nascentes dos rios da Amazônia. É um ciclo perfeito de imensa interação entre os seres vivos e não vivos, árvores e atmosfera, que ultrapassa os limites da evolução e interação biológica. São as maravilhas de um mundo perfeitamente planejado!
Ao colidirem com as cordilheiras, essas imensas colunas de umidade condensam-se em forma de chuva e erodem as rochas por onde passam, carregando consigo toneladas de sedimentos siliciclásticos que, ao chegarem nos rios, “caminham” em direção ao oceano. Os rios levam para os oceanos não somente um aporte gigantesco de sedimentos, mas uma rica fonte de sílica, fundamental para a existência e multiplicação de algas responsáveis pela maior parte da produção de oxigênio no planeta: as diatomáceas.
Completamente dependentes dessa interação orquestrada entre o oceano e a Floresta Amazônica, as diatomáceas compõem um aglomerado de microalgas capazes de realizar fotossíntese, conhecidas como fitoplâncton. Essas algas, que são micro-organismos eucariontes unicelulares, ocorrem nos mais diversos ambientes úmidos e aquáticos, suspensos na coluna d’água ou aderidos a diversos substratos: macrófitas (epifíticas), rochas (epilíticas), animais (epizóicas), grãos de areia (episâmicas), sedimento (epipélicas). São fotossintetizantes, possuindo clorofilas do tipo a e c, mas algumas poucas espécies são capazes de resistir heterotroficamente a condições de pouca luz e de baixa disponibilidade de matéria orgânica.[7]
A principal característica morfológica das diatomáceas é a parede celular impregnada de sílica (SIO2.nH2O), envolvida por uma fina camada de matéria orgânica, conhecida como frústula. É da imensa quantidade de sedimentos despejados nos oceanos que as diatomáceas retiram a sílica necessária para suas carapaças, o que lhes possibilita não somente sobreviver, mas se proliferar.
As diatomáceas fazem parte de um conjunto de algas responsáveis pela grande produção de oxigênio essencial para a manutenção da vida nos oceanos e fora deles.[8] As diatomáceas não sabem que a imensidão da Floresta Amazônica exerce papel fundamental para sua sobrevivência, dando suprimento necessário para que continuem a produzir nosso oxigênio. Mas tudo ocorre de modo incrivelmente perfeito. Se a Amazônia não pode ser considerada o pulmão do mundo, sem dúvida podemos considera-la o coração! Como no corpo o coração bombeia o sangue transportador de gases da ventilação pulmonar, no ecossistema global a Amazônia “bombeia” por meio dos rios sedimentos ricos em sílica indispensáveis para a manutenção orgânica das algas diatomáceas.
Os fatores bióticos e abióticos interagem como que orquestrados por uma mente inteligente, capaz de pensar em cada minucioso detalhe para a manutenção do nosso complexo ecossistema. Tudo é interligado. Tudo foi criteriosamente pensado. Tudo foi perfeitamente projetado – por um Designer inteligente.
Sobre o ser humano repousa a imensa responsabilidade de não somente utilizar, mas garantir que toda a diversidade de sistemas, vivos e não vivos, que interagem perfeitamente, siga seu curso natural: manter a vida.

Hérlon Costa

Referências:
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/08/22/macron-gisele-e-leonardo-di-caprio-publicam-foto-antiga-para-criticar-queimadas-na-amazonia.ghtml
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/de-onde-vem-o-oxigenio-que-respiramos/
https://www.ufmg.br/cienciaparatodos/wp-content/uploads/2012/08/e5_23-oxigenio.pdf
https://www.ana.gov.br/noticias-antigas/aquafero-alter-do-chapso-a-c-o-maior-reservata3rio.2019-03-15.3692202018
Nobre, A.D., 2014. O Futuro Climático da Amazônia.
Nobre, A.D., 2005. Is the Amazon Forest a Sitting Duck for Climate Change? Models Need yet to Capture the Complex Mutual Conditioning between Vegetation and Rainfall, in: Silva Dias, P.L., Ribeiro, W.C., Nunes, L.H. (Eds.), A Contribution to Understanding the Regional Impacts of Global Change in South América. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo, São Paulo, pp. 107–114.
https://docs.ufpr.br/~veiga/ficologia/diatomaceas.html
VIDOTTI, E.C. & ROLLEMBERG, M. do C. Algas: da economia nos ambientes aquáticos à bioremediação e à química analítica. São Paulo, Química Nova, v.27, n.01, Jan/fev, 2004.
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